Gazeta Buenos Aires - Rei Charles III defende soberania do Canadá diante das ameaças de Trump

Rei Charles III defende soberania do Canadá diante das ameaças de Trump
Rei Charles III defende soberania do Canadá diante das ameaças de Trump / foto: Hannah McKay - POOL/AFP

Rei Charles III defende soberania do Canadá diante das ameaças de Trump

O rei Charles III defendeu, nesta terça-feira (27), em Ottawa, a soberania do Canadá, país do qual é chefe de Estado, em meio às ameaças do presidente Donald Trump de anexá-lo aos Estados Unidos.

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O monarca britânico foi especialmente convidado pelo primeiro-ministro canadense, Mark Carney, para a inauguração da legislatura, ponto culminante de uma visita de grande simbolismo a este país que integra a Commonwealth britânica.

"A democracia, o pluralismo, o Estado de direito, a autodeterminação e a liberdade são valores que os canadenses prezam, valores que o Governo está decidido a proteger", declarou Charles III diante do Parlamento, no primeiro "discurso do trono" feito por um rei em quase meio século no Canadá.

Em meio a fortes aplausos, ele se inspirou no hino nacional ao afirmar: "O verdadeiro norte é realmente forte e livre!"

O soberano de 76 anos, que sofre de câncer há mais de um ano, realiza junto à rainha Camilla sua primeira viagem oficial desde que ascendeu ao trono em setembro de 2022.

Obrigado a manter uma estrita neutralidade política, Charles III nunca comentou em público as declarações de Trump, que desde seu retorno à Casa Branca em janeiro insiste que o Canadá se torne "o 51º estado" dos EUA.

"O Canadá enfrenta desafios sem precedentes em nossas vidas", disse o rei, referindo-se a um "momento crítico".

As tensões atuais representam uma "incrível oportunidade" para que o país "forje novas alianças e uma nova economia a serviço de todo o seu povo", ressaltou o monarca, que usava ao pescoço a insígnia da Ordem do Canadá.

O Canadá está "pronto para construir uma coalizão de países" que acreditam "na cooperação internacional e no livre comércio de bens, serviços e ideias", acrescentou.

O "discurso do trono", que é redigido pelo Gabinete do primeiro-ministro, é tradicionalmente pronunciado pelo governador-geral, cargo que representa a Coroa britânica no Canadá e que desde 2021 é ocupado por Mary Simon.

– "É extraordinário" –

Charles III pronunciou o discurso na antiga estação ferroviária que abriga provisoriamente a Câmara do Senado, cujo edifício está em reforma.

Chegou junto à rainha Camilla em uma carruagem cerimonial puxada por cavalos da Real Polícia Montada do Canadá. Foi recebido com uma salva de 21 tiros de canhão, enquanto a bandeira canadense do edifício era substituída por um estandarte que indica a presença do rei.

Milhares de pessoas se reuniram ao longo do percurso do desfile para ver o monarca. Em clima festivo, agitaram bandeiras canadenses e a Union Jack, a bandeira britânica.

Kirsten Hanson, de 44 anos, celebrou a visita do rei. "Se ele pode fazer algo para demonstrar a soberania canadense, é fantástico", declarou à AFP. "Ninguém quer ser absorvido pelos Estados Unidos", acrescentou.

Sob um céu azul, um sorridente Charles III apertou as mãos do público aglomerado ao longo de uma cerca de segurança, e dirigiu palavras a cada um.

"Em termos simbólicos, é extraordinário porque é apenas a terceira vez que o soberano lê esse discurso", destacou Felix Mathieu, professor de política na Universidade de Quebec em Outaouais.

Elizabeth II, falecida mãe de Charles III, só foi ao Canadá pronunciar o discurso do trono duas vezes durante seu reinado de quase sete décadas: em 1957 e em 1977.

Para a jovem de trinta e poucos anos Shrikant Mogulala, presente entre o público que assistiu ao desfile, o rei viajou "para enviar uma mensagem clara a Trump" de que o país não está à venda.

"O Canadá foi um pouco maltratado ultimamente" por Trump, disse por sua vez Tom Fleming. Para esse homem de 83 anos, é "muito importante" que Charles e Camilla "apareçam e façam sentir sua presença".

E.Gallo--GBA