

"Se cuspirem, revidaremos": a política de Trump diante dos distúrbios em Los Angeles
"Se cuspirem, nós revidaremos", resume Donald Trump, que não hesitou em mobilizar a Guarda Nacional em resposta aos distúrbios em Los Angeles contra suas operações migratórias, numa demonstração de autoridade presidencial que seus críticos consideram excessiva.
Há três dias, algumas áreas de Los Angeles têm sido palco de confrontos entre manifestantes e as forças de segurança, em meio a mobilizações contra a política radical anti-imigração do governo federal.
O presidente republicano, de 78 anos, ordenou o envio de 2 mil militares da Guarda Nacional, uma força de reservistas, para essa cidade californiana.
"É uma escalada desnecessária e um abuso de poder", denunciou em um comunicado Hina Shamsi, do influente grupo de direitos civis ACLU.
Há vários anos, o presidente — ou candidato presidencial — Trump fala em utilizar o Exército para operações policiais, algo que ele não fez durante seu primeiro mandato na Casa Branca (2017–2021).
- Desfile militar -
Desta vez, ele parece decidido a exercer ao máximo suas prerrogativas como "comandante-em-chefe", com o envio de tropas, mas também por meio de decisões simbólicas.
No sábado, Washington sediará um desfile militar em comemoração aos 250 anos da criação das Forças Armadas dos Estados Unidos — uma data que coincide com o 79º aniversário de Donald Trump.
Para o círculo próximo ao presidente, a luta contra a imigração ilegal equivale a uma batalha pela "civilização", o que justificaria todos os meios.
"Los Angeles é a prova de que você precisa para ver que a imigração em massa desmantela as sociedades (...) Se não resolvermos o problema da imigração, não poderemos resolver nem salvar mais nada", escreveu no domingo seu assessor Stephen Miller na rede social X.
"Acredite se quiser, a Califórnia costumava ser um paraíso", e "a imigração em massa nos levou ao ponto em que estamos agora", acrescentou Miller nesta segunda-feira.
Fiel à sua concepção maximalista das prerrogativas presidenciais, Donald Trump não descartou enviar militares a todas as cidades americanas onde houver manifestações contra a deportação de imigrantes ilegais — um desafio aos dois contrapesos previstos na Constituição: o Poder Judiciário e o Congresso.
- "Ladeira escorregadia" -
O republicano "tem tendência a usar palavras grandiosas e a exagerar com frequência", declarou à AFP William Banks, professor de Direito da Universidade de Syracuse.
Mas, se ele mobilizar militares da ativa, "estará indo contra a tradição americana, que consiste em deixar a manutenção da ordem a cargo de civis", ou seja, da polícia, acrescenta.
Para enviar os fuzileiros navais, ele teria que invocar formalmente a Lei da Insurreição, algo feito apenas cerca de trinta vezes desde a fundação dos Estados Unidos.
Essa lei é invocada "quando tudo está indo mal", resume William Banks, porque "é uma ladeira escorregadia. Se declarar estado de insurreição, seus poderes serão quase ilimitados".
Por trás do aspecto jurídico, o cabo de guerra é altamente político.
A Califórnia é um reduto democrata, embora Trump tenha ganhado terreno durante as últimas eleições presidenciais. O estado também é alvo da direita radical americana por suas políticas progressistas.
Na sua rede Truth Social, o presidente atacou a prefeita de Los Angeles, Karen Bass, e o governador da Califórnia, Gavin Newsom — ambos democratas — a quem considera "incompetentes" e incapazes de restaurar a ordem.
Ele também ameaçou tomar medidas legais contra os congressistas californianos que se opuserem às operações de expulsão.
G.Molina--GBA