Gazeta Buenos Aires - Quinto apagão total em menos de um ano leva população de Cuba ao desespero

Quinto apagão total em menos de um ano leva população de Cuba ao desespero
Quinto apagão total em menos de um ano leva população de Cuba ao desespero / foto: YAMIL LAGE - AFP

Quinto apagão total em menos de um ano leva população de Cuba ao desespero

Cuba voltou a sofrer um apagão total nesta quarta-feira (10), o quinto em menos de um ano, que deixa sua população entre a "agonia" e o "desespero", e que atinge em cheio o comércio, que tenta sobreviver em meio à crise que assola a ilha.

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"Houve uma desconexão total do Sistema Elétrico Nacional (SEN)", informou o Ministério de Minas e Energia em sua conta no X.

As autoridades informaram que a queda do sistema elétrico, ocorrida por volta das 9h15 locais (10h15 de Brasília), se deveu a um alarme falso de superaquecimento na caldeira da central termelétrica Antonio Guiteras, no centro da ilha.

O alarme falso levou esta termelétrica, a mais importante do país, a parar de funcionar, provocando a queda do sistema nacional.

O primeiro-ministro cubano, Manuel Marrero Cruz, disse, em sua conta no X, que o país conta "com uma estratégia bem definida" para restabelecer o sistema "no menor tempo possível".

Nas ruas da capital, funcionavam poucos sinais de trânsito, recentemente equipados com painéis solares, enquanto muitas pessoas tentavam voltar para casa para se preparar para a contingência que em situações anteriores durou vários dias.

Trata-se do quinto apagão generalizado desde outubro de 2024 nesta ilha de 9,7 milhões de habitantes.

"Outro retrocesso, outro dia perdido. Agonia e tristeza, e para alguns, desespero. Não há trégua neste país, quando menos se espera, fica-se na escuridão", disse à AFP Alina Gutiérrez, uma dona de casa de 62 anos, que soube do novo corte de energia enquanto fazia compras em um hortifrúti em um bairro central de Havana.

Com pressa de voltar para casa, a mulher disse que precisará "coletar toda a água possível e esperar para ver quanto tempo isso dura".

Cuba enfrenta há mais de um ano uma severa crise de energia causada pelas más condições de sua infraestrutura elétrica.

O serviço depende de oito termelétricas obsoletas e grupos geradores espalhados pela ilha, que precisam do escasso combustível disponível no país para funcionar, além de uma rede de transmissão também desgastada.

A instalação de 30 parques fotovoltaicos, com ajuda da China, dos 52 previstos para este ano, tem ajudado a diminuir os cortes.

- "Nos afeta muito" -

Durante este verão, quando o consumo de energia é maior por conta das altas temperaturas, os apagões programados foram ampliados, inclusive em Havana, onde costumavam ser menos prolongados.

De acordo com as autoridades, os cortes de eletricidade programados duraram, em média, quase 15 horas diárias em agosto e 16 em julho, em todo o país.

No domingo, cinco das quinze províncias da ilha ficaram sem luz por uma falha em uma linha da rede elétrica.

Além de grandes hotéis e alguns hospitais, cada vez mais famílias e negócios privados, autorizados em 2021, têm suas próprias plantas geradoras de energia e equipamentos com painéis solares para facilitar a vida durante os apagões programados.

Em algumas áreas dos bairros abastados de Havana, é possível ouvir o rugido das plantas, que começam a funcionar quando a luz vai embora.

Os novos negócios privados, em especial, tentam sobreviver.

"Realmente, nos afeta, sim, nos afeta muito", disse à AFP Odette León, dona de uma pequena confeitaria no oeste da capital cubana.

"Temos a planta, mas ter a planta representa um gasto maior porque aí, tem o combustível, que agora não é muito fácil de conseguir", explicou, atrás de uma vitrine repleta de tortas de vários sabores.

Esta mulher, de 34 anos, diz que é um pouco mais fácil comprar gasolina nos postos que cobram em dólar, mas "o gasto é maior ainda", acrescenta, enquanto pede que seus funcionários comecem a cancelar encomendas até novo aviso.

Nos últimos anos, Cuba tem sofrido uma acelerada deterioração econômica, com inflação alta, escassez de combustível, a dolarização parcial da economia e salários mensais cujo valor médio beira os US$ 54 (R$ 292,2, na cotação atual), segundo a cotação oficial, mas que chegam a apenas US$ 16 (R$ 86,5) no mercado paralelo.

E.Gallo--GBA