Gazeta Buenos Aires - "Two prosecutors": o comunismo stalinista como alerta em Cannes

"Two prosecutors": o comunismo stalinista como alerta em Cannes
"Two prosecutors": o comunismo stalinista como alerta em Cannes / foto: Miguel MEDINA - AFP

"Two prosecutors": o comunismo stalinista como alerta em Cannes

O totalitarismo comunista no pior período do governo de Stalin foi o alerta que o ucraniano Sergei Loznitsa levou ao Festival de Cannes, com a exibição de um dos primeiros filmes da mostra competitiva.

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Baseado em um conto de Georgy Demidov, "Two Prosecutors" - exibido na quarta-feira - narra o ingênuo pedido de uma investigação por maus-tratos apresentado por um jovem promotor recém-nomeado na Rússia soviética de 1937.

O jovem idealista (interpretado por Aleksandr Kuznetsov), membro do Partido Comunista, tenta abrir a investigação sobre um centro de detenção distante de Moscou, onde ele conseguiu visitar outro promotor encarcerado e torturado.

A máquina totalitária rapidamente entra em ação para calar a voz dissidente.

"Não seja ingênuo, essa é a mensagem para os espectadores e para mim mesmo", disse Loznitsa em uma entrevista à AFP sobre a trama do primeiro filme que rodou em quase uma década.

A Rússia, depois de 25 anos de governo de Vladimir Putin, se parece com a União Soviética, afirma Loznitsa. Mas sua mensagem também ressoa em uma época de retrocessos em muitas democracias.

"A sociedade russa de hoje é diferente da sociedade soviética do século XX, mas a essência é a mesma", acrescenta o diretor de 60 anos.

"Poderia acontecer em qualquer sociedade", destaca, ao ser questionado se os Estados Unidos correm o perigo de cair no despotismo.

Enquanto na Rússia de Putin, que invadiu a Ucrânia, os dissidentes são detidos, nos Estados Unidos a divisão política é particularmente aguda.

A oposição democrata e a esquerda denunciam Donald Trump como um autoritário.

O presidente republicano responde, por sua vez, que foi durante o governo anterior, do democrata Joe Biden, que investigações contra ele foram abertas.

"Há pessoas que têm um verdadeiro talento para fazer com que a sociedade se dobre aos seus desejos mais profundos", reflete Loznitsa. "Stalin era extremamente talentoso nisso".

Stalin foi, entre 1924 e 1952, o principal governante da União Soviética e um líder louvado durante anos pela esquerda política e pelos intelectuais no Ocidente.

Responsável por um genocídio contra camponeses proprietários de terras na Ucrânia na década de 1930, Stalin também determinou a detenção de centenas de milhares de opositores.

- Olhar feminino sobre o passado -

Outro filme exibido no início da mostra competitiva foi "Sound of falling", o segundo longa-metragem da alemã Mascha Schilinski, uma diretora que confessou que "uivou de alegria" ao saber que estava no grupo de 22 cineastas selecionados para a disputa da Palma de Ouro este ano.

O filme narra, em episódios curtos, a relação especial entre um grupo de meninas e mulheres em uma fazenda isolada no norte da Alemanha, ao longo de décadas.

Um drama intergeracional, o filme aborda morte, sexo, crueldade e a inocência das crianças.

"Muitas mulheres neste filme não escolhem a morte, mas muitas vezes é a única possibilidade em que pensam para se libertar radicalmente", explicou à AFP Schilinski, cujo filme estreia no início de setembro na Alemanha.

I.Godoy--GBA